Mudou-se para a casa dos avós paternos em São Caetano do Sul aos três anos de idade com a sua irmã e morando com um tio também. Cursou o Ensino básico em escola pública na região do ABC, sendo incentivada a ler um livro por mês pela professora Helena. Em 1990, teve seu primeiro contato com o IMES ao cursar Ciências da Computação, no qual permaneceu por um ano e trancou o curso. Estudou por três anos Letras na Fundação Santo André, mas não terminou a licenciatura; ao saber que o IMES havia aberto o curso de Publicidade e Propaganda, retorna a universidade que agora já possuia o prédio D, da Escola de Comunicação. No primeiro ano, participou da oficina de teatro da USCS e permaneceu nele até 2006, participando das apresentações feitas no Vale do Jequitinhonha. No segundo ano de faculdade, conseguiu bolsa como monitora e atuou como estagiária no setor de Comunicação fazendo clipping. Também ingressou no grupo VOCAL, o coral do IMES. Em 2000, prestou concurso para trabalhar na USCS e foi chamada em 2002, recebendo o telefonema da Vera Lúcia Basso; depois de sete meses trabalhando na sala dos professores, mudou para o setor da Comunicação, que estava informatizado, com mais incubências e uma equipe maior. |
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Renata D'Adamo, 44 anos.
São Caetano do Sul, 19 de outubro de 2016.
Entrevistadores: Luciano Cruz
Equipe técnica: Não Identificado
Transcritor: João Pedro Gianforti
Pergunta:
Renata, eu queria que você começasse falando nome completo, local e data de nascimento. Por favor.
Resposta:
Meu nome é Renata D'Adamo, eu nasci em Santo André, no dia 23 de dezembro de 1971.
Pergunta:
Bom, vamos começar então. Buscando lá atrás eu queria falar um pouquinho sobre a sua família, sobre as recordações que você tem ainda, ainda criança, né?
Resposta:
Bom, eu cheguei na casa dos meus avós paternos com três anos, após a separação dos meus pais, e de lá até aqui, estou no mesmo local, na mesma casa, então são 41 anos no mesmo lugar. Em São Caetano, ali no bairro Santa Maria.
Pergunta:
E como que foi essa, o que [é] que você lembra dessa chegada? Você falou que tinha três anos, quais são as recordações que você tem dessa sua primeira infância?
Resposta:
Bom, eu tinha, tinha não, tenho ainda uma praça na frente de casa e as brincadeiras eram na rua, subindo em árvore, amarelinha. Então não tinha naquela época aquele problema de deixar a criança na rua, eu ficava na porta de casa, e foi bem livre assim, foi muita brincadeira de rua, queima, pique-esconde, pega-pega, foi uma infância bem saudável. Toda ralada, tinha roxos para todos os lados, foi bem moleca.
Pergunta:
Como que eram essas brincadeiras? Como que era essa turma que você tinha ali, né? Mais meninos, mais meninas, você se dava bem _____?
Resposta:
Era bem balanceado, tinha, não tinha um maior número de meninos ou maior número de meninas. Vinha gente ali de todas as ruas ali perto de casa, e a gente não tinha telefone, muito menos celular, mas sabia o horário de voltar para casa direitinho, então não tinha problema com a mãe, a mãe sabia que naquele horário a gente estava [interrupção de pensamento], como a gente sabia o horário? Não me pergunte, mas a gente sabia que tinha que voltar.
Pergunta:
Quem morava com você na casa dos seus avós?
Resposta:
Na casa dos meus avós, eu, minha avó e o meu avô paterno, minha irmã e o meu tio, que é irmão do meu pai.
Pergunta:
Desse convívio, desse primeiro núcleo familiar, tem alguma recordação ou alguma coisa que [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Uma coisa que me marcou é que logo que eu cheguei meu avô perdeu a visão, completa, total, e aí muita dificuldade para se trocar, para comer, principalmente para andar. E eu estava andando ainda, e a minha irmã começando a andar, o que me marcou, é o que minha vó conta e eu lembro vagamente, porque eu era muito novinha, que a gente acabou ensinando ele a andar. Então o que é que ele fez, um certo dia ele falou para a minha vó: ‘Você confia em mim? ', minha vó falou: ‘Confio! ', então: ‘Me dá a Ana Paula' que era a minha irmã que ainda estava começando a andar, ele colocou no braço, e: ‘Me dá a mão para a Renata'. E aí a gente fazia o contorno da casa. Ele aprendeu [interrupção do entrevistador].
Pergunta:
O contorno fora da casa? Na calçada?
Resposta:
Fora da casa, na calçada! A gente tem um quintal grande e tinha uma calçada que fazia o entorno da casa. E aí a gente foi caminhando, quando chegava no final da casa, que tem uma casa no fundo, um corredor, ele trocava de braço e voltava comigo. Então ele acabou aprendendo a andar, pegando confiança para andar, comigo e com a minha irmã, então isso me marcou bastante.
Pergunta:
Renata como foi o início da sua vida escolar?
Resposta:
Bom, eu comecei estudando perto de casa ali, é Antônio de Oliveira a pré-escola, acabei fazendo quatro anos, porque quando eu completei seis não tinha vaga para seis anos, para o primeiro ano, né? Então eu acabei fazendo dois anos de pré. Aí fui para o Rosalvito que também é em São Caetano, era uma escola estadual, agora municipal, fiz da primeira à oitava série no Rosalvito. Aí o colegial foi em Santo André, no Américo Brasiliense, dois anos, e dois anos no Alcina, aqui em São Caetano, para completar o colegial.
Pergunta:
Nessa sua experiência do pré, primário, você tendo o primeiro contato com a escola, o que você lembra? Como que era a sua rotina? [5'].
Resposta:
Bom, uma das coisas assim, que eu me envergonho até, é que eu não conformava que a minha vó tinha cabelo branco e todas as mães eram com cabelos escuros, então era a minha tia que me levava para a escola [risos]. Depois de um tempo que eu acabei acostumando com isso, mas assim também as atividades eram ao ar livre, quando não estava chovendo, muita brincadeira de [pensando], nos brinquedos ali, e muita brincadeira didática, para fazer círculo, para fazer quadrado, então eu acabei chegando no primeiro ano quase que alfabetizada, a gente já conhecia as letras, já juntava uma letra ou outra, então eu cheguei no primeiro ano já meio que preparada para a alfabetização.
Pergunta:
Como foi o decorrer do caminhar, você [interrupção da entrevistada].
Resposta:
É, ali da primeira à oitava série foi no mesmo local, uma das professoras que me marcou foi uma professora de português, que nos dava a incumbência de ler um livro por mês, e ela cobrava isso com muita rigidez, eu agradeço a ela o tanto que eu gosto de ler, por conta dessa insistência dela com a gente, quando criança. Então todos os amigos, a gente se encontra, conseguiu ainda se encontrar, agora esse ano inclusive, a gente relembra essa insistência dela em fazer a gente ler, que eu acho que é o que falta, está faltando hoje.
Pergunta:
Você lembra de alguma dessas obras que você _____?
Resposta:
Olha, eu li toda a obra da coleção vagalume, inteira, sem exceção, fora os livros normais, né? Os clássicos, aí a gente também leu vários.
Pergunta:
Qual era o nome da professora? Você se lembra?
Resposta:
É professora Helena!
Pergunta:
Professora Helena.
Resposta:
Isso, Helena Rio.
Pergunta:
Você citou a questão da sua vó, que era quem te levava na escola, esse contato com a sua mãe e com o seu pai, após essa separação, ele não foi mais constante? É isso?
Resposta:
Com o meu pai sempre, o meu pai a maioria do tempo morou com a gente. Com a minha mãe mais escasso, mas também tinha contato.
Pergunta:
Você teve essa relação familiar principalmente [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Com a família paterna.
Pergunta:
Com os seus avós.
Resposta:
Isso.
Pergunta:
Essa transição, então, do início da escola, poxa, tendo esse apresso pela leitura, queria que a gente fosse avançando um pouquinho até chegar no ensino médio. Quais são as outras coisas que vêm agora à sua memória agora dessa fase da sua vida?
Resposta:
Um pé de amora [sorriso], nas aulas de educação física a gente ficava todo manchado, e aí as mães adoravam, né? Porque a mancha não sai. Que tinha dois pés de amora no caminho que a gente chegava para a quadra, e era toda vez que tinha aula de educação física, alguém voltava manchado de amora para casa. E aí a gente tinha aula de educação física separado, né? Era masculino e feminino, e os meninos, a gente acaba ficando ali e os meninos no muro da escola, olhando a gente. Que era aquela bendita daquela saia plissada, aqueles shorts, um shortinhos vermelhos mais curtinho, uma meia até o joelho e um tênis bamba. Era lindo aquilo, né? A gente adorava usar aquela roupa, só que não! Mas aí a professora com quem eu fiz educação física durante os quatros anos, da quinta à oitava série, ela foi uma das professoras da Hortência, do basquete, então ela deu todas as modalidades de handball, basquete, vôlei, então ela ia intercalando isso com a gente, com as turmas, vendo quem tinha mais habilidade para cada uma das coisas, e a gente acabava participando dos jogos escolares, que também foi muito legal. A gente competia, então, principalmente com o Eda que é do lado, o Eda Mantoanelli, que era uma escola estadual também, a gente tinha essa competição, né? De melhor no vôlei, melhor no handball, melhor no futebol, era bem gostoso.
Pergunta:
Você praticava qual modalidade?
Resposta:
Eu nunca gostei de basquete, eu era horrorosa no basquete, andava sempre, eu gostava muito do vôlei, apesar do tamanho não ajudar muito [10']. Mas gostava mais do vôlei, no handball quebrei meu dedo, mas o que eu gostava mais era o vôlei.
Pergunta:
E como estava, e a questão da vida profissional? Quer dizer, até esse momento você estudava e, enfim, trabalhava, ou ajudava nos afazeres da casa, como que era a sua [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Não, até o segundo colegial eu ajudava nos afazeres, só estudava, e ajudava nos afazeres de casa. A partir do terceiro colegial é que eu comecei a trabalhar, comecei a trabalhar com 17 anos.
Pergunta:
Como foi essa entrada no mercado de trabalho?
Resposta:
Eu entrei em uma concessionária de automóvel, né? Da Fiat. Era ali perto de casa, então eu acabava indo a pé, e eu lembro, assim, que eu só não fui vendedora, mecânica e presidente, porque do restante todo mundo que saia de férias eu acabava ficando no lugar, e isso foi ótimo, porque eu acabei aprendendo um pouco de cada coisa, contabilidade, contas a pagar, contas a receber, recepção, telefonia. Então eu não reclamava, saia de férias e lá ia a Renata de stand-by ficar no lugar, foi bem legal, foram cinco anos nessa empresa.
Pergunta:
E o impacto dessa entrada no mercado de trabalho? Quer dizer, você passou a ter um recurso financeiro maior, você estava recebendo, como isso impactou na sua vida naquele momento?
Resposta:
Bom, morando com a minha vó e, isso ela fez com os filhos também, a gente tinha uma ajuda de custo para a casa. Então eu tinha algumas responsabilidades, tinha uma parte do dinheiro que era para mim, e outra parte que era para o custeio da casa, então algumas das contas eram de minha responsabilidade, como ela sempre fez com os filhos.
Pergunta:
São quantos filhos? Ou seja, quantos tios?
Resposta:
Bom, a minha vó teve nove filhos, vivos ainda são sete. Incluindo meu pai, né?
Pergunta:
Você ficou então cinco anos nessa concessionária e como que foi essa [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Aí fui mandada embora, acabei indo para uma [pausa para pensar], uma seguradora chamada Bamerindus. Fiquei dois anos nessa seguradora, e também aprendi muito, assim, foi bem gratificante mesmo. Acabei trabalhando em São Paulo, que até então a minha vida era em São Caetano, né? Eu acabei indo para São Paulo, acabei pegando enchente, acabei ficando uma noite dormindo no escritório, porque eu não conseguia voltar para casa. Eu trabalhava ali na Boa Vista que é perto da 25 de Março, então acabei conhecendo o centro da cidade, que eu adoro até hoje, gosto de ir, fiquei dois anos nessa empresa. Aí foi a época que quando ele virou HSBC, né? Que o HSBC comprou, quem tinha menos tempo de casa, e no meu setor era, acabei sendo eu, foi mandado embora, aí eu fiquei a partir daí seis anos fora do mercado de trabalho, sem conseguir trabalho e, foi nessa época, que eu acabei entrando na faculdade. Eu ainda estava trabalhando, estava no meio do ano do primeiro ano de Publicidade no IMES, né? Que agora é USCS, quando eu fui mandada embora.
Pergunta:
Como foi essa opção pelo IMES? Então você encerrou o ensino médio, estava trabalhando no Bamerindus [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Não, aí eu estava trabalhando ainda na concessionária Fiat.
Pergunta:
Estava trabalhando ainda na concessionária.
Resposta:
Eu acabei entrando porque foi na época do Boom do computador, né? Eu acabei entrando para fazer Ciências da Computação na USCS em 1990, para nunca mais querer ver número na minha frente. Aí fiz um ano, tranquei a matrícula, e fui fazer Letras na Fundação Santo André, aí fiz, completei, não fiz a licenciatura, fiz só até o terceiro ano, não completei a licenciatura, e aí descobri que tinha Publicidade e Propaganda, tinha aberto o curso de Publicidade e Propaganda no IMES. Aí eu falei: ‘Olha é isso que eu quero fazer! ', voltei para o IMES e acabei concluindo o curso aqui.
Pergunta:
Então você tem duas experiências no IMES, né? Uma primeira lá em 1990 na época do curso de [interrupção da entrevistada].
Resposta:
De Ciências da Computação.
Pergunta:
De Ciências da Computação.
Resposta:
Bem no comecinho.
Pergunta:
Como foi esse primeiro impacto? Como era a instituição? Como era a universidade naquela época?
Resposta:
Ela era bem menor do que ela é hoje, praticamente onde é o prédio B agora, né? [15'] Era somente aquele espaço, era uma coisa mais [pensativa], como eu posso dizer? Tinha menos gente, menos professores, menos funcionários, as coisas eram mais perto, assim, não tão distantes. Como não tinha tanta gente, o cuidado com a gente era um pouquinho maior, mas aí o curso é que acabou não me, eu vi que o curso não era a minha praia, então acabei indo para Letras.
Pergunta:
Você chegou a ter alguma aula prática? Você lembra, por exemplo, dos laboratórios de informática?
Resposta:
Não, para o primeiro ano a gente não tinha, era mais a área de programação, de lógica. Acabei nem chegando no computador ainda.
Pergunta:
Você foi para a Fundação, fala um pouquinho desse período na Fundação!
Resposta:
A Fundação era uma coisa maior, né? Ela era, na época ela era bem maior que o IMES, uma coisa ampla, e aí o curso de Letras tinha uma sala com 120 alunos, dos 120 eram 110 mulheres, só tinham 10 homens. E foi muito gostoso lá também, a gente tinha, no pátio tinha, tem, um lugar que chamado Penicão, porque ele realmente parece um penico, é o auditório que fica embaixo e tem um vão encima onde a gente ficava para estudar. E aí a parte de literatura que me chamou muito a atenção, eu tinha uma professora chamada Lurdinha, Maria de Lurdes, mas a gente acabava chamando ela de Lurdinha, ela dava uma prova para a gente que era um almaço, que na época a gente usava, e aí você tinha uma delimitação de linhas de início e não tinha delimitação de quantidade para terminar, e a gente fazia prova fora da sala, sentado embaixo da árvore, sentando, porque era todo arborizado o a redor ali do prédio, então a gente sentava embaixo da árvore para fazer a prova e era uma prova que não tinha como, não tinha, você consultava a sua memória de aula, eu não tinha como consultar um livro, como consultar, era, foi bem gostoso de fazer isso, era difícil, era bem difícil, mas foi bem gostoso. E aí a gente se sentia meio que livre para fazer, né? Era a única prova que a gente fazia fora da sala, o restante era prova comum, dentro da sala normal. E ela, essa me marcou bastante por conta disso, e ela incentivava a leitura, incentivava leituras diferentes, ela trazia livros diferentes para a gente ler, ela incentivava a gente com textos, então eu escrevia textos, poemas, eu e um outro rapaz da sala que acabou virando cantor depois. Aí é engraçado que esse aluno que acabou virando cantor, a gente ficava nos corredores com o violão para estudar para as provas, então eu estudava para a prova ouvindo violão.
Pergunta:
Qual o nome, você lembra?
Resposta:
Perdão, eu acabo não lembrando o nome dele.
Pergunta:
Você consegue lembrar o momento em que você decidiu fazer Publicidade e Propaganda? Como que foi esse estalo, o que te levou a isso?
Resposta:
Eu já queria, mas não tinha aqui perto. A Metodista acabou entrando, mas era longe, era fora de mão para eu chegar. Mas eu sempre, o bichinho lá da Publicidade e Propaganda já tinha me picado, mas eu não tinha ainda, estava tudo muito longe, eu não tinha como ir, quando eu descobri que tinha Publicidade aqui eu estava terminando o terceiro ano de Letras, e foi assim terminando o terceiro ano eu já vim e fiz o vestibular, e acabei vindo fazer Publicidade aqui.
Pergunta:
Você reencontrou o IMES então três anos depois, né?
Resposta:
Isso.
Pergunta:
Já tinha alguma diferença entre aquela instituição e a anterior?
Resposta:
Tinha muita, tinha muita diferença, porque já tinha o prédio A. Quando eu voltei para cá já tinha o prédio A, tinha o A e o B, e um pouquinho do C que é onde tinha o CEAPOG ainda, que era a parte de pós-graduação que ficava onde é a reitoria agora, a área administrativa. Então já estava bem diferente do que eu tinha deixado em 1990, já estava bem maior, o número de alunos, e professores, e funcionários já era bem diferente do que eu tinha visto [20'].
Pergunta:
Fala um pouco da sua experiência no curso de Publicidade da USCS?
Resposta:
Os dois primeiros anos a gente fez no prédio B, porque o prédio de Comunicação ainda estava sendo construído. Eu tive professores, assim, que me incentivaram, nos incentivaram, a não seguir aquele parâmetro de só escrever, então a gente fazia trabalhos com apresentações de teatro, com, a minha turma foi bem criativa nessa parte, porque as outras turmas apresentavam um slide, apresentavam, na época era Transparência, né? Que não tinha, a gente não tinha o Data Show ainda, então era na Transparência que a gente fazia, e a gente achava aquilo muito chato, muito parado. E aí a sala toda, então os grupos da sala, a minha sala acabou sendo uma sala mais diferente do habitual, tanto é que eu tenho um professor, chamado Roberto Elísio, que até hoje ele lembra de uma apresentação que eu fiz para um trabalho dele, ele comenta até hoje dessa apresentação. Então acho que a gente deu uma marcada assim, em alguns professores, por conta disso, de ser diferente, de querer apresentar as coisas de forma diferente.
Pergunta:
Como foi essa apresentação? Para o professor ______.
Resposta:
Bom, era um trabalho sobre o (Eisner), o gênero do cinema, e aí tinha todos os elementos caracterizados em cada um de nós, então tinha o médico bêbado, o xerife, a menina de saloon, e aí a gente se vestiu, se caracterizou. E o duro era ter que sair na hora do intervalo, que era ali no pátio do prédio B, o banheiro era no meio do corredor e a minha sala no final do corredor, eu tinha que passar o corredor inteiro vestida daquele jeito, então a gente passou um aperto até chegar na sala. Mas a hora que a gente entrou o pessoal ficou encantado, o professor mais ainda, e foi bem gostoso, a gente conseguiu fazer um negócio que era muito chato, uma coisa muito divertida, e que acabou marcando quem estava lá e o professor também.
Pergunta:
A sua é a segunda turma, é isso?
Resposta:
É a segunda turma, isso!
Pergunta:
De Publicidade e Propaganda na universidade. Você falava, junto com a sua vida profissional, chegou um momento que você estava cursando a faculdade e acabou ficando um período desempregada.
Resposta:
Isso!
Pergunta:
Como que foi esse período para [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Aí eu consegui, a partir do segundo ano, eu consegui monitoria, então eu acabei terminando a faculdade com monitoria, a bolsa da monitoria, então eu fiz o segundo, do segundo ao quarto ano, com a monitoria. E acabei fazendo monitoria no setor de Comunicação, que era a minha área. E aí a partir já do primeiro ano eu comecei a fazer Teatro, tinha oficina de Teatro na universidade, acabei ingressando na oficina e fiquei lá até 2006, então foram quase 11 anos aí de Teatro na universidade.
Pergunta:
Vamos falar um pouquinho primeiro, um pouquinho sobre a Comunicação, né?
Resposta:
Aham.
Pergunta:
Você monitora, estudando no curso de PP, consegue uma vaga na Comunicação, como você bem diz, sua área.
Resposta:
Isso.
Pergunta:
Como foi conseguir essa vaga? Você fez uma entrevista? Como que você chegou na Comunicação e como era sua rotina, como era a Comunicação da USCS naquele momento?
Resposta:
Ela era muito menor do que ela é hoje, as atribuições da Comunicação eram menores do que elas são hoje, eu fiz uma entrevista com o professor Joaquim na época, professor Joaquim Celso na época, para, ele acabou me perguntando o que eu esperava, o que eu conhecia de trabalho na área de comunicação. E acabei entrando para, eu fazia o clipping da universidade, eu comecei com o clipping da universidade, tinha a Mercedes, que era uma funcionária já, que acabou me ensinando essa parte de clipping, como que eu recolhia dos meios, né? A maioria jornal, o jornal físico, as [gaguejada], tudo que se falava da USCS. Então eu acabei entendendo o clipping lá nesse comecinho, e era a minha incumbência fazer o clipping na universidade.
Pergunta:
Como era a área de comunicação? Quer dizer, você citou a Mercedes, tinham mais funcionários? [Interrupção da entrevistada].
Resposta:
Olha!
Pergunta:
Como que era o dia a dia do setor? [25'].
Resposta:
A área da Comunicação era o professor Joaquim, a Mercedes, e eu de monitora e, mais ninguém. Era bem pequeno mesmo, e já nessa época, quase nessa época, tinha o setor de Cultura, que era do professor Oscar Garbelotto, que acabava cuidando da área de Teatro, do grupo de Teatro, da oficina de Teatro e da oficina de Voz, que era o grupo vocal da universidade, que acabavam se fundindo ali com a comunicação, as funções. Mas era bem pequeno, só tínhamos nós mesmo.
Pergunta:
Além do clipping, quais as outras atribuições do departamento, nessa época?
Resposta:
Nessa época, registro fotográfico, que era a Mercedes que fazia. O professor Joaquim ainda cuidava da área de copa, da área administrativa da copa, eu acho que era só. E assim, eventos, porque eram muito pequenos, né? Os eventos acadêmicos, assim, eram menores, eram bem menores do que eles são hoje, bem menos do que eles são hoje, que a gente também acabava cuidando.
Pergunta:
Agora, eu queria que você falasse um pouquinho sobre a sua experiência no Teatro, como foi esse período ________.
Resposta:
Eu comecei a fazer Teatro para perder um pouquinho a inibição, e acho que acabei perdendo até demais, né? Ficando cara de pau demais. No primeiro ano eu estava meio que reticente assim, meio: ‘O que [é] que é? Como é que funciona? '. Aí no segundo ano eu acabei me encontrando mesmo, esse mundo de fantasia, fantasia misturada com realidade, que o teatro proporciona para a gente, eu aprendi, acabei aprendendo muita coisa sobre mim, sobre o ser humano, sobre convivência com as outras pessoas, sobre os sentimentos das outras pessoas em relação à várias coisas. E uma das experiências que marcou e marcou, assim, quem fez comigo, foi a viajem que nós fizemos ao Vale do Jequitinhonha, nós ficamos 25 dias e visitamos 18 cidades, todas elas banhadas pelo rio Jequitinhonha, e lá a gente aprendeu o que nenhum livro ensina, o que o ser humano é capaz de fazer mesmo não tendo absolutamente nada. A gente chegava nas casas e o rapaz dormia em uma esteira, e aí oferecia café para a gente, a gente sabia que aquele café era o que ele tinha, não tinha mais que aquilo, mas a gente não podia negar de receber, que foi uma das instruções que a gente recebeu dos prefeitos de cada cidade, para a gente não negar, apesar da situação da pessoa, não negar o que eles nos ofereciam. E aí uma das apresentações, a gente fazia todas na rua, porque eles, normalmente as cidades não tinham estrutura de teatro, essas coisas, então a apresentação era feita na praça com o chão ainda quente, que é um lugar bem quente, a gente foi em janeiro, era 40, 45 graus durante o dia. E as pessoas acabavam vindo para assistir, e a gente foi com um medo muito grande de eles não entenderem, o que a gente fez foi o nascimento do homem a partir do barro do rio Jequitinhonha, que é a base de sustento de quase todos eles, eles são artesãos que tiram do rio o sustento, né? Seja com ele com o peixe ou com o barro. E aí, em uma dessas apresentações, na primeira apresentação que a gente fez, a gente estava com aquele receio de não ser entendido, quando a gente terminou a apresentação todas as pessoas que estavam em volta, estavam chorando. Eu nunca chorei tanto na minha vida, que toda apresentação eu chorava, aí eu recebi, a gente recebeu, além desses [gaguejada], eles abraçavam muito a gente, a gente era muito bem acolhido ali, né? Depois da apresentação, e antes também. Em uma das apresentações, a gente recebeu como pagamento um saco de laranja, o saco era quase do tamanho da mulher que entregou para a gente, ela vai arrastando aquele saco, eu nunca chupei uma laranja tão doce na minha vida, chorando também. Mas ali a gente aprendeu realmente do que o ser humano é capaz, na bondade, na divisão das coisas, foi bem legal essa experiência.
Pergunta:
E esses personagens que você viveu, dá para destacar algum?
Resposta:
A dá! Eu fiz, a primeira personagem que eu fiz, ainda na oficina[30'], ela era bem pequeninha, era uma comédia, acabo não lembrando o nome dela. Na segunda que eu fiz, que a gente levou ainda para o, em uma das viagens, que a gente fez duas viagens para o vale, na segunda viagem a gente acabou levando essa personagem, junto com algumas outras, ela se chamava Dorva, é uma personagem que não tinha fala, a expressão era toda corporal, e eu só cantava. E aí foi bem engraçado, porque eu não sabia que eu cantava, e aí o diretor musical, que era filho do professor Joaquim, que é o Thiago Freire, em um determinado momento ele desceu comigo no camarim, o pessoal estava ensaiando uma outra cena no teatro, ele falou: ‘Olha, eu trouxe uma proposta, vamos ver se você consegue cantar, fecha o olho! ', aí ele me passou como é que era a melodia e eu acabei cantando com o olho fechado, quando eu abri o olho estava o elenco todo na escada me ouvindo. E aí ele falou: ‘Eu não sabia que você sabia cantar', eu falei: ‘Mas nem eu sabia que eu sabia cantar! '. A partir daí é que eu acabei também indo para a área do canto, fazendo o Grupo Vocal, com o Paulo Moura, que também muito legal.
Pergunta:
Você lembra da música?
Resposta:
Na verdade, era um texto da Cora Coralina que o Thiago musicou, eu não vou lembrar agora o nome do texto, mas era um trechinho de um poema dela que ele acabou musicando, e acabou marcando a personagem, acabei ganhando como revelação, atriz revelação daquele ano.
Pergunta:
Qual foi o prêmio?
Resposta:
O prêmio de atriz revelação, mas na universidade tinha-se um prêmio que era feito todo ano pelo grupo de teatro, então era atriz revelação, melhor atriz, atriz coadjuvante.
Pergunta:
O próprio grupo tinha essa premiação.
Resposta:
Isso, a gente acabava organizando isso, isso! É que acabou se perdendo ao longo do tempo, mas a gente fez bastante isso.
Pergunta:
Ainda no teatro, ainda falando das peças das quais você participou, ou das peças do Grite que você acompanhou, você destacaria mais alguma posição?
Resposta:
Tem Hair, que foi em 2000, no meu ano de formatura, que marca qualquer pessoa, né? Foi a primeira vez que nós fizemos uma peça maior, que até então eram peças mais introspectivas, com menos estrutura de cenário, com menos estrutura de figurino, e o Hair ele acabou sendo o nosso divisor de águas. Eram 26 atores, eram oito músicos, e tinha figurino, cada ator tinha, no mínimo, dois figurinos. E aí fazer toda a logística disso, de que hora que você troca, que hora que você entra, que hora você sai, foi bem difícil, mas a gente aprendeu bastante também. Ela foi feita no pátio da universidade, essa foi a que me marcou. Uma outra que me marcou também, foi Antes do Amanhecer, que eu fazia uma atendente da CVV, que tudo que uma atendente da CVV não pode fazer, eu fazia, e ela era completamente maluca, e também acabei ganhando o prêmio de melhor atriz com essa personagem. Em 2002.
Pergunta:
Você citou, a pouco, a sua atuação também no grupo vocal.
Resposta:
Isso.
Pergunta:
Como aconteceu isso?
Resposta:
Por ter descoberto que eu sabia cantar, eu precisei dar uma aprimorada na voz, porque ela era pequena, ela era baixa, então precisa, para postar a voz, para a plateia ouvir, eu precisava aprender como usar esse aparelho [apontando para a garganta/pescoço], como usar a voz. E aí tinha a oficina de voz que eu acabei entrando, com o Paulo Moura ainda, e a partir daí ele acabou me ensinando como utilizar, eu fui melhorando bastante, até no falar, não só no cantar, aprendi a respirar, aprendi porque eu tinha que respirar, onde eu tinha que respirar. E aí uma das coisas, que assim, são bem gratificantes, é que pelo Grupo Vocal eu acabei conhecendo Paulo Vanzolini e Inezita Barroso, que foram duas apresentações que também me marcaram bastante com o Grupo Vocal.
Pergunta:
Vocês fizeram participações em conjunto? [35'].
Resposta:
Isso, eles fizeram participações nas nossas apresentações, nós fizemos A História da Música Caipira, e em uma apresentação o Paulo Vanzolini fez e na outra foi a Inezita, olha que a gente aprendeu bastante nessas duas visitas aí.
Pergunta:
No Grupo Vocal você citou o Paulo Moura [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Isso.
Pergunta:
E no teatro você chegou a falar do Thiago Freire. Queria que você citasse outros profissionais com quem você, enfim, trabalhou junto nesses dois projetos.
Resposta:
No teatro é o Kléber, que era o diretor, né? Kléber di Lázzare, que inclusive é meu amigo até hoje. O Tiago que era o diretor musical e, no Hair, quando a gente fez o Hair, acabei, acabou entrando o Eduardo Berton, que também agora é diretor musical, trabalha exclusivamente com música. Tem a Lídia Zózima Sampaio, que não está entre a gente, mas que me ensinou, basicamente, o que é ser um ser humano, deixar de reclamar, entender os meus sentimentos, entender a forma como os meus sentimentos mexem comigo, mexem com o meu corpo, mexem com a minha mente, me ensinou um monte de exercícios, inclusive eu faço algumas massagens por conta dela, que foi ela que me ensinou. Aí tem a Marina e a Marcela, que são filhas da Lídia, que também aprendi bastante com elas, contracenei com elas também. E tem várias outras pessoas, durante essa minha estada de dez a 11 anos no teatro, que além de atuar, eu fazia parte de produção, né? E também aprendi bastante no início, lá na 25 de Março, no perrengue da 25 de Março, com um monte de sacola, com o rapa passando. Ahh tem o Fabrizio Dell'Arno, que acabou sendo o nosso figurinista e cenógrafo, que é um artista plástico que agora mora na Itália, que também era muito engraçado fazer compras com ele, na 25, ele não sabia do rapa, ele acabou quase sendo atropelado por uma caixa, era divertidíssimo fazer compras com ele, foi bem legal, essa época foi bem gostosa, aprendi bastante também.
Pergunta:
A gente estava falando da sua vida profissional, né? E a gente parou ali naquele momento em que você falou que ficou durante seis anos desempregada.
Resposta:
Isso.
Pergunta:
Como foi o retorno ao mercado de trabalho?
Resposta:
Aí em 2000 eu acabei prestando o concurso, abriu concurso para a universidade, para o IMES na época, eu acabei prestando o concurso e não passando logo de cara. Eram 12 vagas e eu acabei ficando em 19ª na colocação, aí esperei, esperei, esperei, esperei, são dois anos de limite para prescrever o concurso, quando foi em setembro de 2002, que dali três meses acabaria o meu prazo, eu acabei sendo chamada. Na verdade, não foi nem pelo correio, foi um telefonema, porque como todo mundo me conhecia, eu acabei, ela falou: ‘Não, pode trazer! ', e eu falei: ‘Mas eu não recebi o ...', e: ‘Não, não tem problema, pode trazer! '.
Pergunta:
Fala um pouquinho desse telefonema, como foi, o que você estava fazendo na hora, quem foi que atender o telefonema?
Resposta:
Bom, era um dia, eu estava em casa e eu lembro que estava uma chuva, chovia demais aquele dia. E aí a Vera, que era a secretária administrativa, Vera Basso, na época me ligou e falou: ‘Renata, chegou o seu número! '. ‘Como assim chegou o meu número? '. ‘Você vai ser contratada pela universidade'. E eu [cara de surpresa, como se estivesse ao telefone], e eu não conseguia responder para ela, porque eu fiquei um tempo fora do mercado e estava bem difícil de conseguir emprego, e acabei ficando também fora do mercado porque eu tinha monitoria, então não dava, eu acabei optando por terminar a universidade, ao invés de largar e procurar mais assiduamente um emprego. Mas fiquei muito feliz no dia que ela, na verdade, o telegrama acabou chegando depois que eu já tinha levado todos os documentos para a universidade.
Pergunta:
Como que foi essa sua ação, contratada pela universidade? Você deixou a monitoria, mas manteve a bolsa?
Resposta:
Isso. A priori não tinha vaga no setor de Comunicação, eu acabei indo para a sala dos professores, na época a gente tinha uma recepcionista na sala dos professores, e era muito engraçado, porque os alunos chegavam na recepção e falavam o sobrenome do professor, só que a lista que eu tinha era o nome do professor, até eu conseguir decorar sobrenome, para poder achar em que sala que ele estava, demorou um tempinho, foi uma parte bem engraçada [40']. E a Rosalva, que trabalhava na época lá, acabou me ensinando muita coisa, então era: ‘Eu quero falar com o professor Vieira! ', é Luís Vieira, como é que eu ia saber que era Luís? Até eu achar, tentar entender quem era o professor, foi difícil, mas foi bem legal.
Pergunta:
Tinha uma relação impressa ali, né?
Resposta:
Sim! Tinha uma relação [interrupção do entrevistador].
Pergunta:
Não era no sistema!
Resposta:
Não. Tinha uma relação impressa por ordem alfabética, com o primeiro nome do professor, só que o aluno vinha com o sobrenome. E até eu conseguir decorar o sobrenome para eu poder ligar o nome, e eu achar em que sala ele estava, demorou um tempinho.
Pergunta:
Neste momento a universidade já era outra, de novo, em relação aquele seu primeiro momento na Ciência da Computação, em relação ao segundo [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Segundo.
Pergunta:
Em relação ao segundo momento que você estava chegando, né?
Resposta:
Isso.
Pergunta:
O que você pode falar da USCS, qual ano que você me disse?
Resposta:
2002.
Pergunta:
Como era a USCS em 2002?
Resposta:
Já era bem maior do que os anos anteriores, quando eu fiz Computação e quando eu entrei para fazer PP, e aí eu acabei vendo a parte interna, né? Porque como funcionária eu acabei vendo como é que funcionava a área administrativa, a área da sala dos professores, também acabei aprendendo muita coisa ali, com a Rosalva, a priori, né? E depois indo para a Comunicação, que aí em sete meses acabou abrindo a vaga na Comunicação, e eu acabei indo para a Comunicação.
Pergunta:
Fala um pouco aí dessa transição. Você já tinha pedido para ir para a Comunicação? O que aconteceu?
Resposta:
Não, na verdade o professor Joaquim já tinha me falado que me queria na Comunicação, só que não tinha vaga ainda, quando abrisse a vaga ele me chamaria. Acabou abrindo a vaga, e eu acabei indo para a Comunicação.
Pergunta:
Como você reencontrou a Comunicação?
Resposta:
Muito diferente da primeira vez. Já era mais informatizada, as incumbências da Comunicação eram bem maiores, incluindo a área de Marketing, era tudo com a Comunicação. E aí também fui aprendendo, tinha mais pessoas na Comunicação, né? E mais áreas com as quais a gente lidava, então além do clipping, da fotografia, tinha área de eventos, tinha área de colação de grau, tinha área, estava caminhando para a área de Comunicação do site, que era a área de, internet também estava começando a entrar, então foi uma época de bastante aprendizado, essa volta.
Pergunta:
Como que você define a trajetória da USCS? Você viveu grande parte dessa trajetória dentro da universidade, quer seja como aluna, quer seja como monitora [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Funcionária.
Pergunta:
Integrante dos grupos de teatro, funcionária, queria que você falasse um pouquinho sobre essa trajetória da universidade.
Resposta:
Eu vi a universidade lá no comecinho, como um núcleozinho, e acabei estando aqui na caminhada dela para essa coisa maior, que é a universidade hoje, né? Que tem vários cursos, quem tem vários campi, nessa coisa grande que você acaba não tendo, na época lá no comecinho você tinha controle, né? Tudo era ali, tudo era perto, tudo era junto. E agora são três campis que são mais ou menos independentes, eles acabam andando meio que sozinhos, então essa mudança também eu demorei um pouquinho ainda para entender, como é que eu trabalho com isso, e ainda estou aprendendo, tem bastante coisa ainda para melhorar.
Pergunta:
O que é que a USCS representa na sua vida?
Resposta:
Olha, na área profissional quase que tudo, porque a maioria das coisas que eu aprendi foi aqui, na área em que eu escolhi para a profissão, que á a área de Comunicação. Na área pessoal também, porque pelo grupo de teatro e pelo Grupo Vocal, eu acabei evoluindo muito do meu ponto de partida, antes de entrar aqui [45']. Na área educacional também aprendi bastante, porque eu tive professores ótimos, lá no comecinho e até o quarto ano, são professores de primeira linha que me ensinaram tudo que eu sei hoje.
Pergunta:
Eu sei que é sempre complicado citar nomes, porque de uma forma ou de outra a gente acaba sempre deixando alguém de fora [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Alguém de fora [sorrisos].
Pergunta:
Mas quais os nomes vêm a sua _______? Pense nessas pessoas que te ajudaram na universidade, quais os nomes que, neste momento, por exemplo, aparecem na sua mente?
Resposta:
De professor, na minha área, Silvio Minciotti, Herom Vargas, Roberto Elísio, Maria do Carmo, que a gente chama de Carminha, carinhosamente, Liráucio, que a nossa turma foi a primeira turma dele, a gente tinha aula aos sábados de sociologia e era difícil manter aquela turma quieta, e ele conseguia. Quem mais? [Pausa para pensar], João Batista que já foi lá para o finalzinho, aí me desculpa o restante, mas tem muita gente aí que me ajudou.
Pergunta:
Tem alguma curiosidade, alguma história divertida, alguma coisa que você ache legal lembrar, no momento em que a gente está, enfim, revisitando essa história da universidade, que você pudesse trazer?
Resposta:
Divertida?
Pergunta:
Ou de curioso, ou de negativo, quer dizer alguma coisa que [interrupção da entrevistada].
Resposta:
Ah. Voltando na área do teatro a gente fala de ser humano, né? De como ele pode ser surpreendente de vez em quando. Em uma das apresentações, eu fazia a atendente do CVV, eu saia do palco e descia para a plateia, e fazia que sentava, né? A gente tinha um, todo um esquema, eu acabava não sentando no colo da pessoa, mas ficava bem próximo, e tinha todo um texto. Aí em um desses textos, em um dos dias, uma moça resolveu me agarrar, me segurar, eu perdi todas as marcações, a banda não conseguiu me olhar, porque tinha marcação atrás, eu não conseguia sair. E ela ficou me segurando, até que eu consegui me livrar dela, e ir lá para o fundo. Uma outra curiosidade, ainda no teatro, a gente fazia [pausa para pensar], como é que era o nome da peça? Não me lembro o nome da peça, mas tinha uma parte da peça que falava de religiosidade, e aí, em um determinado momento dessa peça, uma pessoa levantou da plateia e começou a fazer a oração de São Francisco, fez a oração de São Francisco, que não é pequena, inteira. E a gente no palco [gesto de paralisada], esperando ele terminar a oração para poder continuar, então assim, a gente incitava algumas coisas nas pessoas que a gente acabava não tendo controle, depois que passava o nervoso, a gente acabava sendo, acabava sendo bem divertido.
Pergunta:
E hoje, como é a sua rotina? Se é que existe uma rotina, em relação à universidade?
Resposta:
Ali no setor de Comunicação é bem dinâmico, né? A gente não tem assim: ‘Ah eu pego a pasta, eu coloco a pasta em tal lugar'. Tem dias que tem eventos que a gente tem que vir de manhã, tem dias que tem eventos que a gente tem que vir aos finais de semana. Eu cuido de uma parte do site que também é bem dinâmica, então cada dia tem uma coisa diferente para a gente fazer, a área de eventos que agora está com outro funcionário, com o Samuel, eu fazia, e também era bem assim, cada hora era em um lugar, cada tipo de evento tem a sua peculiaridade, e a área de colação de grau, que também é uma área que eu gosto de trabalhar bastante, é bem gostoso.
Pergunta:
Já está encaminhando aí para o final! Queria deixar aberto, quer dizer, algo mais que você gostaria de destacar, que você acha que vale a pena a gente deixar como memória aí neste projeto?
Resposta:
Então, para mim a universidade, ela meio que acabou entrando na minha vida para me colocar em um certo eixo, né? Aonde eu queria chegar. E tenho muito a agradecer, tenho muito a aprender ainda, claro que assim, tem várias coisas que ainda precisam melhorar, como qualquer instituição, ela precisa sempre estar evoluindo, evoluindo para melhor [50']. Mas vejo que aqui é diferente de onde eu trabalhei fora, em uma área privada, é meio que, eu não vou dizer uma família, mas meio que as pessoas acabam, é meio mais perto, a universidade é mais perto das pessoas, né? Do que na área privada, que é aquela coisa mais seca. É mais emoção, não sei se essa é a palavra certa, mas a universidade para mim é mais emoção, além do aprendizado.
Pergunta:
Você pode citar alguma grande emoção que você viveu aqui nesses muros?
Resposta:
Ishh, são tantas. Eita!
Pergunta:
O que vem primeiramente?
Resposta:
Ah, quando eu consegui me formar. Mesmo desempregada, eu não tinha como pagar a faculdade, acabei pagando com a monitoria, no dia que eu peguei o boletim, eu estava com as notas, eu tinha fechado o quarto ano. Então para mim, assim, foi uma vitória, porque eu achei que não fosse conseguir.
Pergunta:
Hoje ao fazer as colações de grau, talvez, esteja aí também um ingrediente que te emociona tanto?
Resposta:
Isso, exatamente.
Pergunta:
De ver que outras pessoas estão alcançando.
Resposta:
O mesmo objetivo que o meu. Com todas as dificuldades que, ou estando empregado, ou tendo dificuldade para pagar, ou não conseguindo chegar exatamente onde queria. As colações de grau para mim são especiais, são gostosas de fazer.
Pergunta:
Eu só tenho a te agradecer!
Resposta:
Obrigada.
Lista de siglas presentes no depoimento:
IMES: Instituto Municipal de Ensino Superior.
USCS: Universidade Municipal de São Caetano do Sul.
CEAPOG: Centro de Estudos e Aperfeiçoamento de Pós-Graduação.
CVV: Centro de Valorização da Vida.
PP: Publicidade e Propaganda.
Lista de dúvidas:
(Eisner): dúvida quanto a escrita da palavra.